sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

La bella Italia degli anni '90


O regresso das competições europeias em Fevereiro é sempre uma das melhores sensações da época desportiva para os amantes do futebol. As noites europeias de terça, quarta e quinta trazem duelos cada vez mais excitantes já que estamos na fase das eliminatórias e qualquer erro paga-se caro. Um frango, um golo falhado, um passe mal feito – tudo conta demasiado para a sobrevivência das equipas na luta pela conquista dos dois troféus continentais. E, para além de podermos assistir a belos jogos de futebol, estas noites europeias remetem-nos para o universo de jogos inesquecíveis de há 40, 30, 20 ou mesmo 10 anos atrás.

Viajamos hoje até aos anos 90. Na altura ainda havia a entretanto extinta Taça das Taças, a Taça Uefa era decidida com uma final a duas mãos e não havia fase de grupos. Já a Champions começava a transformar-se naquilo a que nós hoje estamos habituados. E nesses anos 90 do futebol europeu, o denominador comum é o calcio. A Serie A era o campeonato mais atractivo do futebol europeu dada a sua competitivdade interna. Para se ter uma noção: entre 1989 e 2001 houve sete vencedores diferentes do campeonato, isto em treze edições.

(uma boa leitura complementar sobre este assunto pode ser encontrada aqui, no excelente Futebol Magazine)

Durante este período – estamos a falar entre 1989 e 1999 - foram vários os clubes italianos que conheceram o sucesso europeu. No que respeita à Champions, AC Milan venceu por três vezes a maior prova continental e foi finalista vencido por duas ocasiões; a Juventus tem um saldo de uma vitória e duas finais perdidas; e ainda temos que falar da Sampdória, finalista vencida em 1992 contra o Barcelona e o dream team de Cruijff. No palmarés das finais da Taça das Taças marcam presença a Sampdória com uma vitória e um derrota; o Parma tem o mesmo registo que o clube genovês; e a Lázio pode orgulhosamente gabar-se de ser a última equipa vencedora da competição, em 1999 contra o Maiorca no Villa Park. Por fim, o registo italiano na Taça Uefa é impressionante durante este período, havendo inclusive quatro finais entre clubes transalpinos: o Nápoles conta com uma vitória; a Juventus regista duas vitórias e uma final perdida; a Fiorentina, o Torino, a Lazio e a Roma todas com uma final perdida (só o Torino é que perdeu contra uma equipa não-italiana, o Ajax em 1992); o Parma venceu por duas vezes; e o Inter venceu por três vezes a Taça Uefa, perdendo uma final contra o Schalke04 em 1997.

É altura, estarão vocês a pensar, de introduzir o tema dos guarda-redes. Pois aqui vamos: em todas as finais referidas no parágrafo anterior, os clubes italianos alinharam sempre com guarda-redes italianos, ou melhor dizendo, portieri di calcio. Sabemos que as regras para a contratação de estrangeiros eram apertadas mas este facto não deixa de ser um registo quase inacreditável para equipas que dominavam o futebol europeu e que contavam nas suas fileiras com jogadores estrangeiros de grande qualidade, mas nunca debaixo dos postes. Antes de fazer esta pequena pesquisa nunca pensei que todos fossem italianos. Mas como tinha saudades de Pagliuca, Rossi, Peruzzi ou Marchegianni resolvi retornar à minha infância, reviver alguns jogos marcantes da minha construção enquanto adepto. As finais europeias, às 19.45 de quarta, foram sempre momentos de êxtase até porque não havia nem Internet, nem Sporttv para podermos ver jogos de futebol com a regularidade desejada.



Seria injusto dizer peremptoriamente que os guarda-redes italianos foram os melhores da Europa durante aquela última década do século XX. A Alemanha, por exemplo, teve Kopke, Ilgner, Lehnman ou Kahn. Em França vimos grandes exibições de Lama, Barthez ou Martini. Pelas balizas holandesas passaram Van der Sar, Ruud Hesp ou De Goey. Os espanhóis viram brilhar Cañizares, Zubizarreta, Lopetegui ou Molina. Mas não há dúvida que o futebol italiano teve um número considerável de brilhantes guarda-redes que ajudaram a conquistar importantes troféus e a realizar campanhas europeias que os seus adeptos jamais esquecerão.

Olhando para o panorama actual, penso que um adepto mais ou menos atento não consegue nomear mais de cinco bons guarda-redes transalpino. Ontem pude assistir a vários jogos de equipas italianas na Taça Uefa, referentes à primeira mão dos 16/avos de final. Torino, Roma, Nápoles, Inter e Fiorentina estão em prova e procuram fazer um percurso digno. Curiosamente, ontem apenas o Torino apresentou no onze titular um guarda-redes italiano – Daniele Padelli. Os outros titulares das equipas italianas eram estrangeiros, embora a Roma no seu campeonato tenha por hábito utilizar o veterano Morgan De Sanctis. Já a Juventus, única equipa italiana na Champions, continua a ser comandada por Gigi Buffon, ele que já figura na lista de vencedores de competições europeias ao serviço de equipas italianas na década de 90, ainda ao serviço daquela excitante equipa do Parma que ganhou a Taça Uefa em 1999.



Eis a lista completa de portieri de calcio que jogaram finais europeias entre 1989 e 1999 ao serviço de clubes italianos (por ordem alfabética): 

Angelo Peruzzi - vencedor da Champions em 1996; finalista vencido da mesma competição em 1997 e 1998; vencedor da Taça Uefa em 1993; finalista vencido desta competição em 1995 – clube Juventus.
Gianluca Buffon – vencedor da Taça Uefa em 1999 – clube Parma.
Gianluca Pagliuca - finalista vencido da Taça das Taças em 1989, vencedor da Taça das Taças em 1990 e finalista vencido da Champions em 1992 – clube Sampdória; finalista vencido da Taça Uefa em 1997 e vencedor da mesma competição em 1998 – clube Inter.
Giovanni Cervone – finalista vencido da Taça Uefa em 1991 – clube Roma.
Giovanni Galli - vencedor da Champions em 1988 e 1989 – clube AC Milan.
Giuliano Giuliani - vencedor da Taça Uefa em 1989 – clube Nápoles.
Luca Bucci – vencedor da Taça Uefa em 1995 e finalista vencido da Taça das Taças em 1994 – clube Parma.
Luca Marchegiani – finalista vencido da Taça Uefa em 1992 e em 1998 – clubes Torino e Lazio (respectivamente); vencedor da Taça das Taças em 1999 – clube Lazio.
Marco Ballota – vencedor da Taça das Taças em 1993 – clube Parma.
Marco Landucci – finalista vencido da Taça Uefa em 1990 – clube Fiorentina.
Sebastiano Rossi - vencedor da Champions em 1994; finalista vencido da mesma competição em 1993 e 1995 – clube AC Milan.
Stefano Tacconi – vencedor da Taça Uefa em 1990 – clube Juventus.

Walter Zenga – vencedor da Taça Uefa em 1991 e 1994 – clube Inter.
Related Posts Widget For Blogger with ThumbnailsBlogger Templates

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Duelos #2: Fabiano vs Hélton



O regresso à competição de Hélton é uma grande notícia para Julen Lopetegui. O experiente guarda-redes brasileiro superou uma lesão complicada no tendão de Aquiles e, dez meses depois, voltou a competir oficialmente pelo clube. O FCPorto tem agora quatro opções muito válidas para a baliza – Fabiano, Andrés Fernandez, Hélton e Ricardo – e, agora que entramos na segunda e decisiva metade da temporada, o técnico espanhol tem que optar por aquela que lhe dá melhores garantias.

Ricardo está destinado a ser apenas um dos muitos guarda-redes do clube que nunca terá oportunidades e acabará por rodar épocas consecutivas emprestado a outros clubes da Primeira Liga. A contratação de Andrés Fernandez sempre foi um mistério para todos. Não podemos dizer que é um mau guarda-redes mas a sua inclusão no plantel portista não faz sentido desde o primeiro minuto e só vem dar razão àqueles que contestam a política de contratações do clube – porque não apostar nos jovens, quando havia Fabiano, Ricardo, Kadú e Hélton? Este raciocínio pode ser feito para Opare, Jose Angel, Marcano ou mesmo Evandro e Campaña mas aqui interessa-nos os guardiões da baliza. O guarda-redes espanhol, portanto, pode ser um bom valor para os treinos e terá alguma margem para evoluir no Dragão mas parece precipitado pensar nele para primeira opção até porque Fernandez nunca jogou num grande e a pressão de ser campeão é diferente da de jogar num clube de meio da tabela espanhola.

Sobram Fabiano e Hélton. O primeiro mereceu a confiança de Lopetegui até agora, o segundo é já uma referência do clube e figurará certamente na história do FCPorto como um dos cinco melhores guarda-redes de sempre. Vamos então analisar os pontos fortes e fracos dos dois guarda-redes.

Fabiano:



Pontos fortes – entre os postes, Fabiano tem uma agilidade fora do comum conseguindo belas intervenções de nível de dificuldade elevado. Pelo ar, Fabiano nunca revelou problemas e sempre se mostrou seguro. Antes de chegar ao Dragão tinha fama de defender grandes penalidades. Com a camisola azul e branca ainda não revelou essa faceta e já teve várias oportunidades.

Pontos fracos – o jogo com os pés é claramente um problema para Fabiano: não é que seja “tosco” mas não se sente confortável com a bola nos pés e isso nota-se ainda mais porque o jogo da equipa pede muita intervenção do guarda-redes. Pode ainda melhorar as suas intervenções no mano-a-mano com os atacantes contrários. Fabiano, com excepção do jogo da Taça da Liga do ano passado com o Sporting, falhou sempre nos jogos grandes, quer na época passada (Sevilha e Benfica), quer esta época (Estoril, Sporting e Benfica) comprometendo os resultados da equipa, revelando assim muita ansiedade nestes jogos e dificuldade em superar a pressão.


Hélton:



Pontos fortes – um guarda-redes que fez esquecer Baía e que é um símbolo de uma equipa como o FCPorto só pode ser um excelente guarda-redes. O brasileiro, que passou por uma fase menos boa depois da misteriosa exclusão do escrete, sempre revelou excelentes reflexos, um jogo de pés fortíssimo, altos níveis de concentração e excelente chefia da defesa através de uma comunicação muito bom com os colegas. Sempre foi um guarda-redes de topo.

Pontos fracos – a falta de competição num guarda-redes durante 10 meses é ainda mais grave quando a maior parte do tempo nem treino específico realiza. Foi o que aconteceu a Hélton após a lesão – ontem, no regresso, vimos um Hélton com alguma pressa em fazer as coisas bem e a precipitar-se inclusivamente num lance caricato; no lance do golo, Hélton ficou demasiado tempo na linha de baliza enquanto o adversário se adiantava no terreno. Outro ponto fraco é o excessivo risco que o guarda-redes brasileiro gosta de correr nos lances em que intervém com os pés, quase matando de susto os adeptos nas bancadas.


Avaliação

Se eu tivesse que escolher, a partir de Fevereiro Hélton seria o dono da baliza portista. Aproveitaria os dois próximos jogos da Taça da liga para dar rodagem competitiva ao veterano brasileiro e a partir de Fevereiro escolheria-o para comandar a defesa portista. As razões são óbvias: na primeira metade do campeonato, o FCPorto cometeu vários erros defensivos e Fabiano falhou nos jogos grandes Os defesas, com Hélton na baliza, sentem-se mais protegidos. Para além disso, e ontem vimos isso, o jogo de pés de Hélton faz a diferença no estilo de jogo da equipa. Com os pés, Hélton toma melhores e mais rápidas decisões do que Fabiano fazendo com que a defesa, por onde passa muito jogo do FCPorto, receba a bola em melhores condições para a transportar ofensivamente.


Lopetegui, antigo guarda-redes, certamente terá mais dados do que os apresentados antes para decidir o que é melhor para a sua equipa. Mas é inegável que o regresso de Hélton vem baralhar as contas na luta pela baliza portista.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Fetiche #3 - Pedro Roma


Durante os anos 90 e inícios da primeira década do século XXI havia uma frase que eu, enquanto miúdo, ouvi muito: “só sabe defender contra os grandes”. Estávamos no tempo em que dava um jogo por semana na televisão e em que os jogos das 16h de domingo eram destaque apenas no Domingo Desportivo em breves resumos de dois/três minutos.Os jogos televisionados eram os dos três grandes e representavam uma grande oportunidade para brilhar perante as várias câmaras. Os guarda-redes, já com a fama de “defender para a fotografia”, agora podiam também fazer defesas vistosas para as repetições de ângulos distintos.

Voltemos à frase: “só sabe defender contra os grandes”. Refere-se, claro, a guarda-redes que faziam grandes exibições contra Benfica, Porto e Sporting, ou seja, em jogos televisionados. Pouco sabíamos das suas prestações noutros jogos mas o talento televisionado naquela altura valia por dezenas e dezenas de jogos na “clandestinidade” dos jogos sob o sol das 16h dos domingos em todo o país. Um miúdo como eu, que até gostava das tardes desportivas das rádios ao domingo, mas também habituado a ver vários jogos não televisionados de um grande, tinha três ou quatro nomes de guardiões que me enchiam as medidas e que brilhavam muito nas televisões portuguesas.

Um deles é Pedro Roma. Outro é Marco Tábuas mas o pequeno guarda-redes que brilhou por terras do Sado fica para outra crónica. Voltemos a uma das grandes figuras da Briosa dos últimos 30 anos.

Pedro Roma – bastava o nome próprio para eu gostar dele. Mas aquele penteado à boys band dos anos 90 e as defesas nos tais jogos televisionados deixavam-me fascinado. Se não estou em erro, há um jogo contra o FCPorto na época 2002/2003, um 1-1 mais para o final do campeonato onde Roma defendeu quase quase tudo e de forma espectacular, só não levando ao desespero o adversário porque nessa altura o título estava praticamente selado pelos dragões.


Mas o ex-guarda-redes da Briosa não é apenas um fetiche meu. Pedro Roma é um símbolo da Académica, um dos poucos dos últimos anos que, para além de jogador, foi estudante ao mesmo tempo. Depois da travessia no final dos anos 80 e início dos anos 90 na Segunda Divisão, Pedro Roma contribuiu para passar o espírito da Briosa aos novos jogadores, muitos deles estrangeiros e raros eram os que se atreviam a entrar no mundo estudantil. Ainda esteve contratualmente ligado ao Benfica mas foi em Coimbra que construiu a carreira, à qual faltou um título e uma chamada internacional.

sábado, 27 de dezembro de 2014

O momento de 2014

 
 
Este blogue é um espaço dedicado a guarda-redes mas esta eleição do grande momento de 2014, apesar de envolver um guarda-redes, não se reduz ao irredutível defensor das balizas. O melhor momento de 2014 para mim é um autêntico ponto de viragem no futebol mundial e decisivo para o desenrolar do Mundial do Brasil, competição que marca definitivamente o ano desportivo.
 
O Mineirazo (7-1 da Alemanha), ou o remate de Goetze no prolongamento do Maracanã, ou o falhanço de Messi na mesma final, ou os 5-1 da Holanda à Espanha logo a abrir o Mundial são difíceis de bater em termos de impacto mundial e haverá argumentos super válidos para fazer daqueles momentos o grande acontecimento de 2014. Mas eu quero mesmo é regressar em concreto ao minuto 42 do jogo entre Holanda e Espanha em Salvador para vos falar de uma tomada de decisão de um guarda-redes que pode ter ditado a inversão do rumo do futebol mundial.
 
Portanto, minuto 42. Breve resumo: Holanda e Espanha, no seu jogo inaugural de um grupo complicado no Mundial brasileiro, reeditam a final de há quarto anos; Espanha tenta adaptar-se ao facto de jogar com um avançado fixo - Diego Costa - e resolver alguns problemas de identidade provocados pela crise no Barcelona e pelo peso da idade de alguns dos seus cérebros; já a Holanda é uma equipa muito diferente daquela que jogou a final quatro anos antes; ao minuto 42 o resultado é 1-0, golo de Xabi Alonso de penalty; até a este minuto o jogo estava a ser controlado pela equipa espanhola, com excepção dos primeiros 10 minutos onde Sneijder teve a única boa oportunidade dos holandeses mas negada por Casillas; depois desse início, La Roja tomou conta do jogo, sem criar grande perigo é certo, mas com maturidade e serenidade.
 
Feito o resumo do que se havia jogado até então, o que é que acontece ao minuto 42? Espanha com o seu tiki-taka renovado procurava soltar-se da marcação impiedosa dos cinco homens mais recuados holandeses. Van Gaal montou a estratégia ao pormenor com três defesas que não largavam Silva, Iniesta e Diego Costa. Xavi, Xabi e Busquets tentavam encontrar os espaços para as potenciais subidas dos laterais mas sem grande sucesso. E após uma jogada iniciada num dos centrais, Iniesta e Silva conseguiram soltar-se das amarras holandesas e inventaram uma movimentação que deixou o jogador City na cara de Cillessen.
 
Silva teve aqui a grande oportunidade para fazer o 2-0 e deixar os holandeses ainda mais desnorteados, porque os obrigaria a mudar de estratégia rapidamente. O espanhol tentou colocar a bola com arte por cima do guarda-redes mas o guardião do Ajax decidiu aguentar-se em pé e com um toque decisivo impediu a bola de entrar na baliza holandesa.
 
O resto da história toda a gente sabe: na sequência do canto, a Holanda inicia um ataque que resulta no mais belo golo do campeonato e do ano - Blind e Van Persie nunca teriam aquela oportunidade se Silva tivesse feito o golo. Na segunda parte veio a hecatombe espanhola e os 5-1 que destruíram psicologicamente os jogadores para o resto do campeonato. Os campeões do Mundo e da Europa sofriam uma das maiores humilhações da história e praticamente abdicavam do trono.
 
Se David Silva tivesse marcado, o percurso espanhol seria diferente. Estamos a falar de um "se" e podemos ir buscar outros lances - como o de Robben na final de 2010 - para tentar explicar outras direcções que o rumo do futebol mundial teria tomado caso se. Muito provavelmente os espanhóis não seriam campeões do mundo mas a forma como foram humilhados no terreno de jogo e fora dele, com muita injustiça à mistura, faz com que este seja o meu momento de 2014.
 
Só graças a Cillessen pudemos obter as belas imagens do voo de Van Persie e de Casillas de gatas perante Robben.
 
 

quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Grandes momentos #4: mais uma loucura de Oliveira



Substituir um guarda-redes de grande nível nunca é fácil, principalmente quando ele deixa o seu fantasma após várias épocas seguidas no mesmo clube. São vários os casos em que um clube só encontra um substituto à altura após quatro, cinco ou seis tentativas. Os treinadores, que sabem bem da importância do guarda-redes numa equipa, tentam antecipar-se o mais possível à reforma do mito ou à sua saída para um clube maior mas nem sempre conseguem encontrar o que querem. Veja-se Ferguson depois da saída de Schmeichel, por exemplo. Daí que se perceba melhor a contratação de Keylor Navas este ano pelo Real Madrid pois todos sabemos que Casillas não durará para sempre. Porém, nem todos os jogadores estariam dispostos a aceitar a situação de Navas mas o costa-riquenho deve ter sido (bem) convencido por Ancelotti que se aguentasse pelo menos uma época na condição de suplente crónico, daqui a um ano – ou dois – ele seria o dono da baliza merengue já depois de conhecidos os cantos à casa, de ter sido posto à prova em jogos da Taça ou da Champions.

Mas nem sempre se está preparado para a perda de um jogador fundamental. Veja-se o caso de Vítor Baía, que deu o salto para o Barcelona deixando o seu fantasma na baliza portista durante algum tempo. Ele que teve a missão de substituir outro mito, Józef Młynarczyk. Atirado cedo às feras, Baía conhecia bem os cantos à casa por ter feito o percurso nas camadas jovens dos Dragões e impôs-se com naturalidade. O problema foi mesmo substituí-lo já que Robson o levou com ele para a Catalunha. António Oliveira e Pinto da Costa pensaram em voltar ao mito polaco e escolheram o na altura titular da seleção da Polónia. Andrzej Woźniak também tinha bigode mas era mais baixo que o compatriota campeão europeu na década anterior e, como todos sabemos, tinha metade do talento de Josef, o seu treinador de guarda-redes no Porto.

Mas não foi só na Polónia que o FCPorto foi tentar combater o fantasma de Baía. Na Suécia “pescou” Eriksson, especialista em sofrer golos por entre as pernas e que esteve três épocas na Invicta. E ainda apostou no veterano Silvino. Porém, quem mais se destacou na primeira época pós-Baía foi um produto da formação que havia rodado na Naval e na Académica: Hilário.

Se nos primeiros jogos António Oliveira escolheu Wozniak, após uma pausa nas selecções e na visita importante a Alvalade o treinador português surpreendeu ao apostar na titularidade do jovem Hilário. Exibição segura, zero golos sofridos e vitória por 0-1. Com Oliveira, como durante a época se percebeu, não é difícil ficarmos surpreendidos: Costa em Manchester a lateral direito é daquelas invenções que ficam para a história. Aliás, os quatro golos sofridos por Hilário em Old Traford deixaram marca no guarda-redes e na parte final da época a baliza foi entregue a Silvino, garantindo o Tri inédito até então para os azuis e brancos.

Hilário nunca mais conseguiu afirmar-se como indiscutível no Porto. Veio Rui Correia, veio Costinha, veio Krajl, regressou Baía, lesionou-se Baía, veio Ovchinnikov, Pedro Espinha, Paulo Santos ou Nuno e nunca mais nenhum treinador apostou na qualidade de Hilário, que foi rodando entre o Estrela da Amadora, o Varzim e a Académica até que na Choupana fez três belas épocas no Nacional. Estava mais maduro e seguro e Mourinho, que já havia trabalhado com ele no FCPorto, achou que seria uma bela escolha para terceiro guarda-redes do Chelsea e por lá ficou oito épocas, sendo chamado nalguns casos a intervir em jogos da Champions e da Liga Inglesa. Hilário acabou a carreira profissional como terceiro guarda-redes num grande clube, uma função que muitas vezes está destinada a jovens promessas como ele um dia foi mas que alguns treinadores preferem dar esse lugar a jogadores que possam ser uma mais-valia no treino. Assim, encheu o currículo com grandes vitórias e troféus.


Aquele jogo em Alvalade e a ousadia de Oliveira mudaram-lhe a vida porque poderia ter seguido o caminho que muitas ex-futuras estrelas portistas percorreram – Ventura, Bruno Vale, Taborda, apenas para citar os mais recentes.

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Fetiche #2: Gabor Király



Os guarda-redes de andebol sempre me fascinaram. A elasticidade, as defesas completamente de pernas abertas, o equipamento largo cobrindo todo o corpo, o facto de darem literalmente o corpo às balas que são praticamente disparadas à queima roupa. Quando comparado com o basquetebol ou voleibol, o andebol ganha sempre a minha preferência devido à presença do guardião destemido.

Ver guarda-redes de futebol a jogarem de calças não é muito usual e, quando o fazem, utilizam sempre calças justas, confundindo-se inclusivamente com meias calças para jogos em Dezembro ou Janeiro para lá de Varsóvia. Mas no final dos anos 90 havia uma excepção: Gabor Kiraly.

O Hertha de Berlim acumulava bons resultados a nível nacional, apurando-se para as competições europeias com alguma regularidade. Nesse tempo, era através principalmente dos jogos europeus que nós conhecíamos mais jogadores de campeonatos que não passavam com regularidade na televisão portuguesa. Foi nessas campanhas do clube da capital alemã que nós pudemos ver o guarda-redes húngaro vestido como se fosse um atleta de andebol a defender as redes de futebol de 11. Calças normalmente cinzentas, largas, uma camisola de manga comprida que lhe conferia um volume mais apropriado à pratica de judo do que a futebol. Mas Gabor Kiraly, com 1,90m, tinha elasticidade suficiente para defesas impossíveis e para assustar os adversários. Sair ao pés de qualquer atacante significava tapar a baliza em 80% e só os mais virtuosos jogadores conseguiam encontrar a tal nesga de espaço nos restantes 20% de espaço livre entre a baliza e o húngaro.

Foi uma pena que a sua geração de jogadores húngaros não fosse suficientemente talentosa para participar num Mundial, ou mesmo num Europeu, para abrilhantar a sua carreira que ainda dura e que se tem desenrolado entre Alemanha e Inglaterra, já não sendo titular indiscutível há algum tempo mas ajudando no dia-a-dia outros companheiros mais jovens. O facto de não ter participado num Mundial também é negativo porque se todos nos lembramos, por exemplo, dos equipamentos excêntricos de Jorge Campos, a presença de Király numa grande competição teria servido para aumentar a sua reputação no mundo como o guarda-redes de andebol nos relvados de futebol.


Mesmo assim, as calças de fato de treino não foram suficientes para Király ultrapassar o mito de Gyula Grosics, o guarda-redes húngaro que fez parte daquela maravilhosa equipa de Puskas que esteve imbatível 33 jogos até à final do Mundial de 1954, ele que também foi medalha de ouro nos jogos de 1952 em Helsínquia, participando em três edições dos Mundiais.

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

2014: o ano do guarda-redes



As discussões à volta da Bola de Ouro são incontornavelmente aborrecidas. A não ser para quem se posiciona fervorosamente num dos lados da barricada – leia-se fanáticos de Messi e Cristiano -, tudo parece uma fantochada sem interesse. Por muito que aqueles dois jogadores mereçam o prémio, nos últimos dez anos não se premiou jogadores como Iniesta, Xavi, Casillas, Puyol, Gerrard, Lampard, Buffon, Totti, Ribery, Robben, Zlatan, entre outros de quase igual valor e paixão intensa pelo jogo. Bem sei que a diferença está naquele “quase”, mas caramba, o binómio Cristiano-Messi começa a ser enjoativo.

Sabemos perfeitamente que os guarda-redes não estão destinados a estes prémios mas o ano de 2014 parece-me claro que poderá ser considerado como o ano do guarda-redes, por dois motivos principais. 2014 foi ano de Mundial e é quase unânime que as maiores vedetas do Brasil’2014 foram guarda-redes: Bravo, Ochoa, Krul, Romero, Mbolhi, Navas, Júlio César e, claro, Manuel Neuer protagonizaram grandes momentos para a eternidade. O guarda-redes alemão, vencedor do troféu de melhor guarda-redes do torneio, é a segunda razão para que 2014 seja recordado como o ano dos guarda-redes.

O culto a Manuel Neuer começa a crescer. A sua exibição frente à Argélia nos oitavos do Mundial ficará para sempre na memória dos apaixonados por este desporto. Naqueles 120 minutos foi toda uma filosofia que ganhou fama e estatuto – o guarda-redes líbero não era um conceito desconhecido mas daquela forma tão segura, determinada e planeada raramente tinha sido observada, ainda por cima num palco onde os olhares de todo o mundo estavam postos. Neuer mostrou o que é ser um guarda-redes ao serviço da equipa: a Alemanha, claramente mais forte que a Argélia, enquanto subia as suas linhas para pressionar uma Argélia defensiva deixava a sua defesa relativamente desprotegida tendo em conta a rapidez dos avançados argelinos, venenosos no contra-ataque. Manuel Neuer, assim, subiu uns bons metros no terreno e aproveitou a sua capacidade física e técnica para destruir uma mão cheia de contra-ataques argelinos que se adivinhavam mortais. Ao ver aquilo perguntava-me se Jens Lehnman ou Oliver Kahn poderiam desempenhar aquele papel, só para mencionar os anteriores donos da baliza da selecção alemã em campeonatos do mundo. A resposta óbvia é não e podíamos agora entrar numa discussão sobre se a Alemanha adoptou essa estratégia por ter Manuel Neur na baliza ou foi o guarda-redes que cresceu com esta filosofia de jogo ao longo dos anos. A discussão daria um outro texto mas defendo que a segunda hipótese é a mais provável porque temos outros guarda-redes alemães que encaram o jogo dessa forma e também porque a filosofia alemã de jogo é fruto de um trabalho estruturado ao longo de vários anos.

Os portugueses, e os portistas em particular, já conhecem Manuel Neuer desde aquela noite de Março de 2008. Ainda no Schalke 04 onde se formou, Neuer deu um festival de defesas – quase todas debaixo dos postes – e percebeu-se logo que tínhamos ali um caso sério para os próximos anos. Assim foi: ganhou o estatuto de titular da selecção e transferiu-se para o gigante Bayern onde hoje mostra a sua arte e ajuda a equipa de Guardiola a dominar o futebol alemão.  Neuer hoje é quase uma unanimidade no que toca à escolha do melhor guarda-redes da actualidade, não só pelas suas virtudes enquanto líbero mas também pela sua agilidade, tranquilidade e posicionamento entre os postes. Quem não se lembra daqueladefesa, nos quartos de final, ao remate de Benzema já depois dos 90minutos?


Voltando ao princípio, há quem defenda seriamente que deveria ganhar o troféu de melhor do mundo. Se Messi e Cristiano não existissem, certamente Neuer seria um candidato fortíssimo. Assim, é deixar rolar e ficarmos satisfeitos por vermos que a posição de guarda-redes ganha cada vez mais adeptos e admiração. Neuer, apesar de ser o expoente máximo, não é o único a gerar loucuras colectivas. Courtois é o guarda-redes do futuro, Buffon e Casillas, apesar da idade, continuam a ter uma legião de fãs assinalável. Celebremos, então, os guarda-redes. E não nos podemos esquecer que a Bola de Ouro 2013 para a melhor jogador de futebol feminino foi para Nadine Angerer, alemã e...guarda-redes.

segunda-feira, 17 de junho de 2013

Grandes momentos #3: as manobras de Dudek

 
 
Sobre a final da Champions de 2005 há muitas histórias para contar. O encontro entre AC Milan e Liverpool, dois históricos do futebol europeu, ficará para sempre gravado nos almanaques como uma das melhores finais de sempre. Da noite molhada de Istambul, fica uma primeira parte de sonho dos italianos, chegando ao intervalo a ganhar 3-0 e a dar um baile ao adversário. Mas também fica uma segunda parte maravilhosa dos homens de Liverpool, que em quinze minutos igualaram os 45 minutos milaneses. 3-3, recurso a prolongamento sem qualquer golo e grandes penalidades. Venceram os vermelhos de Liverpool porque do seu lado estava o polaco Dudek.
 
Dudek, ágil entre os postes, amigo dos fotógrafos mas também conhecido pelas falhas de concentração, ficará sempre imortalizado por dois momentos ocorridos naquela final de Istambul. No prolongamento, Shevchenko, um dos melhores avançados de então, rematou no mesmo segundo por duas vezes à baliza de Dudek. Este negou-lhe o golo de forma miraculosa. O segundo momento são vários: são cinco grandes penalidades cobradas por jogadores do AC Milan. Serginho, Pirlo, Tomasson, Kaká e Shevchenko foram os escolhidos de Ancelotti para ultrapassar Dudek, que tinha decidido usar uma estratégia diferente na abordagem a cada remate dos onze metros.
 
Não era nenhuma inovação mas raramente tínhamos visto algo assim num jogo tão importante. Antes de partirem para cada remate, os jogadores do AC Milan tinham pela frente um guarda-redes que não parava quieto, sempre agitando os braços, de um poste ao outro, na tentativa de desconcentrar o seu adversário. E teve resultados. Serginho e Pirlo (!) falharam os seus remates. A seguir, Tomasson e Kaká conseguiram perceber o esquema do polaco e não tiveram dificuldades em marcar. E como os companheiros de Dudek iam cumprindo com a sua obrigação, quando chegou à vez de Shevchenko era obrigatório que fosse golo para que os milaneses sonhassem com o troféu. Mas o ucraniano ainda devia estar a pensar como tinha falhado aquele golo no prolongamento e partiu medroso, assustado, mole para o remate. Foi frouxo e centrado, permitindo a Dudek - que mantinha o ritual dançante - a defesa e a glória.
 
Lembro-me de na altura ter achado aquilo uma loucura. E, durante muito tempo, em jogos de futebol com amigos, no momento de uma grande penalidade havia sempre alguém que clamava por Dudek, ora pedindo que o guarda-redes dançasse, ora era o próprio guarda-redes que tentava destabilizar o adversário à imagem do polaco.
 
Há umas linhas atrás disse tinha sido um momento único. Pois bem, é a altura de recordar Bruce Grobbelaar, o mítico sul-africano que defendeu a baliza do Liverpool na década de 80 e que também ganhou uma Champions nas grandes penalidades frente a uma equipa italiana. Em 1984 foi contra a Roma, em plena capital italiana. A excentricidade de Grobbelaar já era conhecida por isso não foi surpresa termos assistido às lendárias spaghetti legs antes do penúltimo penalti romano. A forma como se comportou antes dos remates decisivos tinha apenas o propósito de desconcentrar os adversários porque ele não era um especialista na defesa de remates de onze metros. Mas fez os possíveis para atrapalhar e a verdade é que em quatro remates, dois foram para fora.
 
Pelo contrário, Dudek era um especialista em grandes penalidades e conseguiu defender três em Istambul após a sua performance pré-remate. Se foi inspirado por Grobbelaar não sei, mas Dudek ficou imortalizado para sempre na história dos guarda-redes mundiais devido à sua prestação na final de Istambul.

sábado, 15 de junho de 2013

Rui Patrício nunca será grande

 
 
Rui Patrício, pré-época após pré-época, é sempre capa de jornais e causa de muitas notícias, tantos são os colossos europeus que o cobiçam. Rui Patrício é o melhor guarda-redes português? De longe. Está no top-20 europeu? Nem de perto. Debaixo dos postes, o guarda-redes do Sporting tem um nível acima da média e faz defesas extraordinárias. Mas no jogo de pés e nas bolas pelo ar, Rui Patrício é fraco e faz com que, numa análise global, fique a perder para vários outros guardiões europeus.
 
Confesso que fico surpreendido sempre que vejo o nome de Patrício associado a grandes clubes. Um clube de topo tem que ter um guarda-redes de topo, ou seja, um guarda-redes completo em todas as vertentes técnicas. Não sou daqueles que defende que o guarda-redes deva ser uma espécie de Neymar das balizas, mas há limites mínimos a cumprir. E Rui Patrício, a meu ver, não os cumpre. Tal e qual na vertente das saídas pelo ar: trapalhão e com timing errado, Patrício não é um especialista nesta aspecto.
 
Pode Patrício chegar a um grande clube europeu? Pode, e estar no Sporting já significa muito, apesar do péssimo momento que o clube leonino atravessa. Aliás, é nesta fase que se tem visto muitas das qualidades de Patrício, evitando goleadas certas - numa situação normal, um guarda-redes do Sporting deveria evitar empates e derrotas. Mas duvido que tenha um grande sucesso num clube de ainda maiores dimensões. A pressão seria diferente e qualquer erro seria fatal. E Patrício comete-os demasiadas vezes para um guarda-redes de topo.
 
Não me estou a esquecer que é especialista em grandes penalidades, nem que faz defesas assombrosas, nem que se estreou na Liga de uma forma soberba - na Madeira fazendo grandes defesas e parando, lá está, um penalti - nem que é dono da baliza da selecção de portuguesa - uma equipa de topo? - mas falta muito a Patrício para ser um grande guarda-redes europeu. E, aos 25 anos, duvido que vá a tempo.
 
Estarei aqui para me defender no dia em que Patrício ganhar um grande título.

terça-feira, 28 de maio de 2013

Artur Moraes - o guarda-redes que, afinal, não vale títulos



Há uns meses publiquei aqui um texto em que comparava Hélton e Artur Moraes. Disse que o brasileiro do Benfica estava em grande forma e que levava vantagem na luta directa com Hélton. No entanto, este final da temporada faz com que tenha que rever o que escrevi. Não porque Artur não tenha qualidade mas, simplesmente, porque foi decisivo negativamente nos momentos importantes.

Ninguém diria, ao ver as actuações do guarda-redes do Benfica, que estamos perante um jogador experiente, tantas foram as falhas cometidas. Pensava eu que Moraes seria decisivo na recta final da época para segurar os títulos do clube encarnado mas, pelo contrário, comprometeu-os.

Na Liga Portuguesa, Artur está ligado directamente a três jogos em que o Benfica perde pontos. Na Luz, contra o Porto e Estoril, o brasileiro comete dois erros terríveis - dois empates em jogos muito importantes. No Dragão, no jogo do título, se não podia ter feito nada para parar o belo remate de Kelvin, o mesmo já não se pode dizer do golo de Varela: mal colocado, lento a reagir ao ressalto e pouco aplicado no momento de sacudir a bola.

Se na Liga Europa não há nada a apontar, na final da Taça de Portugal Artur fica ligado aos dois golos do Vitória. O primeiro começa num erro absurdo após um pontapé - um erro que Hélton raramente comete - o ponto fraco de Moraes. No segundo golo, apesar do desvio, Artur é mais uma vez muito lento a reagir, Um guarda-redes de topo tem que segurar aquela bola. Ponto.

Preud'Homme esteve cinco épocas no Benfica e nunca foi campeão. Mas tal se deveu à falta de qualidade do resto da equipa e não a erros - foram poucos - que o belga cometeu. Já Artur Moraes claudicou no momento decisivo. Não posso, obviamente, esquecer as belas intervenções nos jogos em casa com o Bayer, em Vila do Conde ou noutras partidas. Mas, na recta final da temporada, um guarda-redes com a qualidade de Artur não pode, nem por sombras, cometer tantos erros e tão graves. Falta de concorrência? Talvez, já que Paulo Lopes no Benfica é apenas um bom rapaz para os treinos e para animar os colegas. O ano passado havia Eduardo.

Quim foi preterido por Jesus por não lhe garantir pontos. Veio Roberto, que soltou a sua veia galinácea de vermelho ao peito. E Artur Moraes, que agora defraudou as expectativas de quase todos os adeptos encarnados. Se o Benfica quiser ter o melhor Artur na próxima época, há que assegurar que terá concorrência forte. 

Abel Resino ou a arte de lançar jovens porteros às feras



No próximo fim-de-semana disputa-se, em Espanha, a última jornada do campeonato. Com o título decidido, as atenções centram-se na disputa pelo quarto lugar e pela despromoção. Quatro clubes estão em risco de descer e estão separados por dois pontos. Deportivo com 35, Celta e Zaragoza com 34 e Mallorca com 33. Todos jogam em casa. Só há lugar para um na próxima edição da Liga Espanhola.

Serão, com certeza, 90 minutos asfixiantes, de rádio no ouvido e com o coração nas mãos. Dificilmente estará tudo decidido aos 75 minutos - a não ser que o Depor, único que depende de si, esteja a vencer confortavelmente a Real Sociedad que luta ainda pela Champions. Mas como é que isto está relacionado com guarda-redes?

Rúben Blanco, terceiro guarda-redes do Celta de Vigo, a pouco menos de dois meses de completar 18 anos, será o titular no jogo decisivo do campeonato frente ao Espanyol. Com a lesão na última jornada do titular - e, já agora, muito bom portero Javi Varas - Blanco estreou-se na segunda parte desse jogo, que culminou numa vitória em Valladolid. Estava no banco porque o habitual suplente está há algum tempo lesionado e tem sido Blanco a estar no banco pronto para qualquer eventualidade. Com a lesão na mão de Javi Varas, Blanco foi lançado às feras e, segundo os relatos, esteve impecável.

Bem sei que foi um acaso a estreia de Blanco. Mas também o foi a de De Gea, no Dragão, num jogo da Champions. Perante a impossibilidade de Asenjo, jogou Roberto que se lesionou durante a partida - entrou De Gea e nunca mais largou a baliza do Atlético nessa temporada. Fez um jogo muito bom no Dragão e, no jogo a seguir, defendeu um penalti e tornou-se uma estrela para os adeptos. 

E, coincidência ou não, o treinador que lançou às feras De Gea é o mesmo que acaba de ter que lançar Rúben Blanco para as grandes decisões. Abel Resino, antigo guarda-redes, é o actual treinador do Celta de Vigo e espera, no último suspiro, contar com Blanco para permanecer no principal escalão do futebol espanhol. Resino, que ao serviço do Atlético no início dos anos 90 detém o recorde de minutos sem sofrer golos, é um treinador com uma carreira relativamente curta mas com pouco sucesso. Um dos maiores é mesmo o sucesso de De Gea. Se conseguir a permanência do Celta, atingirá o ponto mais alto da sua carreira e conta, para isso, com as mãos de ferro de Rúben Blanco.

quinta-feira, 23 de maio de 2013

Grandes momentos #2: a defesa de Quim



O guarda-redes Quim tem um tique:  após a maioria dos golos que sofre, tem por hábito levantar o seu braço direito, insinuando e pedindo a marcação de uma qualquer irregularidade no lance que acabou em golo. Foi assim no Braga, no Benfica, na selecção e novamente em Braga.

Campeão nacional com Trapattoni e Jorge Jesus, parece ter lançado uma maldição ao técnico do Benfica na altura da sua despedida da Luz. Jesus disse que queria um guardião que valesse pontos, saiu-lhe um Roberto na fava e com Artur ainda não conseguiu vencer o campeonato. Quim teve, então, que regressar ao clube de origem para terminar a carreira em grande estilo.

Relativamente pequeno para um guarda-redes mas elástico o suficiente para brilhar para a foto em várias ocasiões, Quim não é nem nunca foi um guarda-redes completo. Pelo ar sofre bastante e tem um frágil jogo com os pés, para além de algumas falhas de concentração. Mas voltemos ao braço de Quim.

Se é costume esticar o braço para o que não deve, na época 2011/2012, à 26ª jornada o Braga recebia o líder FCPorto que tinha que ganhar para praticamente pôr um ponto final no campeonato. O jogo estava equilibrado e foi para intervalo 0-0 - acabaria por resultar numa vitória 0-1 para os dragões. Mas centremo-nos no minuto 42.

Ataque do Porto pelo lado esquerdo, a bola chega à entrada da área a Moutinho que desmarca na esquerda  para Hulk. O brasileiro, praticamente na linha de fundo e no limite lateral esquerdo da área, remata violentamente na direcção da baliza. A bola levava a direcção da malha interior do lado direito da baliza de Quim. Só que pelo meio estava o braço - e a mão - do guarda-redes bracarense, que desta vez se esticou por boas e belas razões, retirando no limite a bola da baliza, numa defesa muito complicada e cheia de intenção. Foi, no fundo, uma defesa com nota artística elevada.

É a melhor defesa dos últimos anos na Liga Portuguesa. Podemos revê-la no segundo minuto deste vídeo - pena não haver várias repetições.

terça-feira, 21 de maio de 2013

Duelos: Neuer vs Weidenfeller



Sábado joga-se a final da Champions 2012/2013 e espera-se que seja um grande jogo já que Bayern e Dortmund foram as equipas que mais espectáculo proporcionaram ao longo da época no futebol europeu. Conhecem-se muito bem, contam com as suas estrelas em grande forma e é uma bonita forma de festejar os 50 anos da Bundesliga, um campeonato com estádios cheios, equipas jovens e fortes quer a nível táctico, quer na componente técnica. 

Nas balizas de Wembley estarão dois guarda-redes alemães que representam duas gerações. Um é mundialmente conhecido, já é o dono da baliza da selecção alemã desde o Mundial de 2010, já esteve na final do ano passado da Champions e é, praticamente, um guarda-redes completo - falo de Manuel Neuer, 27 anos e que representa uma geração mais jovem de guardiões alemães. Já o guarda-redes que defende a baliza do Dortmund é um veterano e está longe de ser uma estrela das balizas mundias.

Comecemos, então, por Roman Weidenfeller. Foi o escolhido pelo Dortmund para substituir Jehns Lehmann após o título de 2002 e, desde então, tem sido quase sempre titular absoluto da baliza do Dortmund. Aos 32 anos está no topo das suas capacidades: sabe os momentos certos de intervenção nos lances e é uma peça fulcral na equipa do Borussia. Não é um guarda-redes de topo porque lhe faltam algumas qualidades nas bolas aéreas e mesmo debaixo dos postes nunca nos habituou a defesas brilhantes. Mas é um guarda-redes de excelente nível que tem vindo sempre a melhorar. Nunca foi internacional e, agora que está na melhor fase da carreira, vê o seleccionador alemão optar por elementos da nova geração de guarda-redes alemães - Zieler, Ten Stegen ou mesmo Adler estão à frente de Weidenfeller na lista de substitutos de Neuer. Outra nota curiosa é que, na final da Champions de 97 em Munique, o Dortmund tinha como titular um guarda-redes alemão, mais jovem na altura, mas que também sempre viveu na sombra de Kopke, Ilgner ou Kahn - falo-vos de Stefan Klos.

Se Weidenfeller é relativamente desconhecido no mundo do futebol, o mesmo não se pode dizer de Manuel Neuer. O alemão formado no Schalke é várias vezes incluído nas listas dos melhores da actualidade ao lado de Casillas ou Buffon. E com bastante razão: uma estatura física soberba, grande qualidade técnica e não tem mau jogo de pés. Peca na concentração, tendo algumas falhas evitáveis. É um digno sucessor de Kahn em Munique e em duas épocas soma duas finais da Champions. O ano passado não imitou Kahn na final contra o Valencia de 2001, apesar de na lotaria das grandes penalidades ter defendido um e marcado outro. Só que a noite era do guarda-redes adversário, Petr Cech, que defendeu uma no prolongamento e outras duas na lotaria. 

Para além do confronto entre duas gerações de treinadores, a final da Champions do próximo sábado será um duelo entre dois guarda-redes distintos que têm algo a provar. Um, Neuer, que é de facto um dos melhores do mundo. O outro, Weidenfeller, que tem evoluído e que o futebol alemão, ao nível das selecções, não tem sabido reconhecer o seu valor, para além de poder afirmar-se igualmente como um dos melhores guarda-redes mundiais.

domingo, 19 de maio de 2013

Courtois - tudo perfeito



Thibaut Nicolas Marc Courtois. 1,99m de altura, 90 kg, 21 anos acabados de fazer. Belga, pertence aos quadros do Chelsea inglês mas cumpriu as duas últimas épocas emprestado ao Atlético de Madrid. E é na capital espanhola que tem feito exibições que o colocam nas habituais listas da imprensa sobre melhores guarda-redes da actualidade.

Elástico, concentrado e seguro, é já um guarda-redes completo que tem ajudado o Atleti a ganhar alguns troféus importantes - Liga Europa, Supertaça Europeia e Taça do Rei, mais um terceiro lugar na Liga. E foi contra o eterno rival de Madrid que Courtois aumentou a lenda na baliza colchonera. Em pleno Bernabéu, o Atleti ganhou 2-1 ao Real Madrid e o guarda-redes belga fez três defesas extraordinárias. 

Muito se tem falado no futuro deste jovem belga. Como pertence ao Chelsea, é o sucessor natural de Cech mas o checo não parece ainda perto da reforma. A decisão de emprestar a um clube de topo foi feliz e acertada, e vai de encontro ao que sempre defendo: os jovens guarda-redes de qualidade devem jogar regularmente se querem evoluir e há poucos guarda-redes de topo que não tenham sido lançados às feras muito cedo. E talvez continue mesmo em Madrid, o que seria do agrado do belga e dos adeptos do Atlético.

E para além da sua estadia em Madrid, no futuro próximo Courtois quer levar de volta a selecção belga a um Campeonato do Mundo. Está bem lançada no seu grupo de qualificação e lidera uma geração de talentos belgas com muita qualidade. Se estiver no Brasil 2014 será, certamente, um dos melhores na sua posição. Para isso precisa de jogar e ao mais alto nível. Para o ano, o Atleti estará na Champions e é mais um desafio para o belga. Mas caso deixe de jogar ou se lesione, aproveito para dizer que o seu suplente na selecção tem também muita qualidade: Simon Mignolet, 24 anos e toda a experiência da Premier League. 

Courtois é, sem dúvida, "o" guarda-redes do futuro. E tem tudo para ser um digno sucessor de Pfaf ou Preud'Homme na galeria de heróis das balizas belgas.


domingo, 5 de maio de 2013

Lama, Sirigu e o PSG



O PSG será, com quase toda a certeza, campeão francês dezanove épocas depois. Será apenas o terceiro título do clube parisiense, criado nos anos 70 por um conjunto de empresários da capital francesa, e que agora tenta voltar às glórias com dinheiro das Arábias. 

Nos anos 90, o PSG venceu o tal título de 93/94 - Artur Jorge era o treinador - e chegou a duas finais das Taças das Taças - ganhou uma ao Rapid Viena e perdeu outra com o Barcelona de Robson. Com Luis Fernandez chegou mesmo às meias finais da Champions, eliminando o poderoso, mas em fim de ciclo, Barcelona de Cruyff. Para estas belas campanhas europeias contribuíram jogadores como Raí, Weah, Le Guen, N'Gotty, Leonardo, Valdo, Kombouaré ou Ginola.

E na baliza? Bérnard Lama. Aos 30 anos, este extraordinário guarda-redes ajudou com defesas fantásticas e elásticas o clube de Paris a conquistar as vitórias referidas. Lama, formado no Lille, foi o dono da baliza do PSG nos anos 90, já no final da carreira. Foi também titular da selecção francesa no Euro 96 e suplente de Barthez no França 98 e Euro'2000. Lama, apesar de parecer ter quase dois metros, só tinha 1,83m, não o impedindo de fazer defesas no limite da elasticidade humana e de ser um guarda-redes muito seguro nas bolas pelo ar. 

E agora que o PSG tenta voltar à ribalta europeia, Leonardo, director-desportivo, foi à Sicília encontrar Salvatore Sirigu, italiano, actualmente com 26 anos. É um guarda-redes seguro e é apontado como natural sucessor de Buffon na baliza da selecção italiana, principalmente pela consistência e pela experiência que já tem e que aplica nos jogos. Longe da exuberância de Lama, Sirigu foi aposta pessoal de Leonardo e tem dado conta do recado. À partida, foi uma escolha arriscada pois o PSG precisava rapidamente de vitórias e a pressão iria ser muito complicada de gerir. Sirigu lidou bem com o desafio.

A incógnita à volta do futuro de Ancelotti no PSG pode pôr em causa o percurso positivo do clube. Este ano só esbarraram contra o Barcelona na Champions. Para a próxima época, o clube vterá que voltar a ser campeão e poderá ambicionar algo mais nas provas europeias. Não será, com grande probabilidade, pelo guarda-redes que o PSG poderá ficar abaixo das expectativas. Sirigu está a construir uma história em Paris capaz de fazer esquecer Lama. Uma final europeia ou alguns campeonatos consecutivos serão fundamentais.


sábado, 4 de maio de 2013

Vintage #2: Silvino Louro



O Benfica regressa, 23 anos depois, a uma final europeia. Será a nona da história do clube encarnado. Costa Pereira esteve em quatro - ganhou duas -, José Pereira levou quatro golos do Manchester United de Charlton, o mítico Bento só conseguiu uma, contra o Anderlecht. Já o dono da baliza das últimas duas finais foi Silvino Louro.

Natural de Setúbal, foi no Vitória FC que começou a dar nas vistas bem cedo, antes de completar 20 anos. Ganhou a titularidade da baliza sadina e realizou grandes exibições, sendo muito cobiçado. Porém, na época  81/82 perdeu a titularidade para Amaral e, ainda jovem, não queria ficar no banco. Rumou a norte, para o Vitória de Guimarães onde fez duas épocas brilhantes antes de se transferir para o Benfica. Ao serviço dos minhotos, num jogo na Luz, chegou a defender dois penaltis de Nené e fez uma grande exibição. Os responsáveis encarnados viram nele o substituto ideal de Manuel Bento.

Só que Bento não tinha ideias de sair da baliza do Benfica e, após uma época no banco, voltou ao norte, desta vez ao Desportivo das Aves. Fez a chamada rodagem, habitual actualmente nos jovens guarda redes, mas na altura Silvino já tinha 26 anos. Era uma época em que o guarda redes veterano era super valorizado. 

Após a passagem pela Vila das Aves, volta ao Benfica e aproveita a lesão de Bento no México'86 para ganhar a titularidade da baliza encarnada. Bento nunca mais recuperou a baliza e, partir daí, Silvino foi titular durante algumas épocas. É nessa altura que o Benfica chega às finais de Estugarda e Viena. Na primeira, Silvino foi incapaz de deter os seis penaltis marcados pelo PSV - era um guarda-redes especialista - e, contra o AC Milan em Viena, não evitou o golo de Gullit, ficando na linha de golo demasiado tempo, enquanto o holandês aproveitava a auto-estrada aberta pelos jogadores do Benfica. Se tivesse ganho este jogo, teria sido ele a levantar a Taça e hoje seria um símbolo incontestável do clube encarnado. 

Nas últimas épocas ao serviço do Benfica lutou com Neno pela titularidade, alternando conforme o treinador que estava ao comando da equipa. Não foi titular na última época - 93/94 - e saiu, pensavam todos, para uma reforma calculada no Vitória de Setúbal. Porém, com 35 anos, ia mostrando grande qualidade debaixo dos postes e o FCPorto foi contratá-lo para ser suplente de Baía, sendo treinado por Robson. Com a saída de Baía para Barcelona, pensava-se que Silvino seria o eleito mas António Oliveira, também chegado ao clube, resolveu apostar em Wozniak, primeiro, depois em Eriksson, mais tarde em Hilário mas, nos últimos dez jogos da época, o treinador apostou em Silvino que deu a tranquilidade necessária nos jogos decisivos para a conquista do primeiro tricampeonato da história do clube. Após essa época, muda-se para o vizinho rival Salgueiros, onde cumpre três épocas, as últimas como jogador profissional.

Silvino foi também internacional A. No final da década de 80, para além de substituir Bento no Benfica, fê-lo na equipa das quinas. Mas a ascensão de Baía e a alternância com Neno na baliza encarnada tiraram-no do caminho da selecção, não tendo nunca participado numa fase final, já que em 96 era suplente de Baía no Porto. Referi esta competição porque os eleitos de Oliveira para Inglaterra foram Baía, Rui Correia e Alfredo. Mas já ao serviço do Salgueiros, poucos meses depois de ter ajudado o FCPorto a ser campeão, Artur Jorge chama-o à titularidade porque Baía estava lesionado. Jogou na Alemanha no célebre jogo da expulsão de Rui Costa e em casa na vitória frente à Irlanda do Norte. Foram as últimas internacionalizações de Silvino, aos 38 anos, ele que contabilizou 23.

Não foi um guarda redes vistoso mas era eficaz. Canhoto, de recursos simples, um pouco frágil no jogo aéreo - apesar da altura -, Silvino é actualmente o fiel companheiro de Mourinho no treino de guarda-redes. É conhecido pela sua personalidade exuberante e por ferver em pouca água. Mourinho garante que é o melhor treinador de guarda-redes do mundo. Petr Cech ou Júlio César falam maravilhas dele. Já com Casillas a relação não é a melhor.


segunda-feira, 1 de abril de 2013

God save the keeper



A Inglaterra não ganha nenhuma competição de selecções desde 1966 quando organizou o campeonato do mundo. Em 1990 ficou às portas da final mas começou aí a maldição das grandes penalidades – seguiram-se o Euro 96, o Mundial 1998, o Euro 2004 e o Mundial 2006. Assim não há guarda-redes que resista. O primeiro a sofrer foi Peter Shilton, impotente perante a frieza dos alemães desde os onze metros.

Mas recuemos até ao Mundial de 66. O dono da baliza era Gordon Banks, um dos melhores guarda-redes de todos os tempos. Foi um dos grandes responsáveis pela bela campanha inglesa nesse Mundial e o primeiro golo que sofreu nessa competição foi de Eusébio, de grande penalidade - quem diria. É célebre a imagem do pantera negra a cumprimentar Banks depois do golo. Banks esteve presente nos Mundiais de 62, 66 e 70. Neste último, no México, efectuou uma das defesas mais conhecidas de sempre, impedindo Pelé de fazer o golo. E ganhou a imortalidade nos almanaques de futebol.

Shilton, o sucessor, foi dono da baliza inglesa durante mais de uma década e pode ser lembrado de várias formas. Por ser o guarda-redes do mítico Notthingham Forest, bicampeão europeu no final da década de 70. Por ser o guarda-redes que encaixou os dois golos mais famosos do mundo, e num só jogo: a mão de deus e o slalom gigante do deus argentino Maradona em pleno mundial mexicano. Também foi nesta competição que Carlos Manuel marcou o golo da vitória portuguesa no jogo inaugural. Shilton é também o jogador com mais presenças em jogos oficiais de sempre, cuja carreira só terminou aos 47 anos.  




Shilton teve que lutar com Ray Clemence pelo lugar que pertenceu durante vários anos a Gordon Banks. Se Shilton ganhou duas Champions, Clemence ganhou 3 nos anos 70 ao serviço do Liverpool, mais duas Taças Uefa. Quem levou a melhor na rivalidade entre os dois foi Shilton, que se retirou da selecção em 1990 e deixou em aberto uma vaga na baliza inglesa. No Euro 96 a seguinte vítima da maldição das grandes penalidades foi David Seaman, o homem do bigode e do rabo de cavalo, já mais no final da carreira, e também dos pontapés esquisitos. Titular do melhor Arsenal dos anos 90 – deixou Highbury Park no ano anterior à época perfeita (2003/2004) – Seaman agarrou o lugar na selecção inglesa face à concorrência de Flowers, Martyn ou Ian Walker. Seaman esteve perto de alcançar a glória mas outra vez os alemães nas meias finais, e agora em casa no Euro 96, impediram o acesso a uma nova final em Wembley. Dois anos mais tarde, quando os ingleses em terras gaulesas queriam a desforra de 86, Seaman voltou a ser impotente e não impediu a vitória argentina nas grandes penalidades.





Apesar de toda a qualidade de Seaman – esta defesa é brilhante, por exemplo – o momento mais marcante da sua carreira ocorreu no Japão. Os ingleses acordaram cedo esperançados numa boa exibição que pudesse eliminar o poderoso Brasil. Owen ainda alimentou o sonho mas Rivaldo esfriou os ânimos. Até que aos 50 minutos, um livre lateral aparentemente inofensivo resultou num dos lances mais famosos dos mundiais, coisa que parece perseguir os guarda-redes ingleses. Seaman colocou-se mal e não teve instinto para deter o arco de Ronaldinho Gaúcho. 2-1, derrota inglesa e todos temos ainda na cabeça as imagens de um David Seaman desconsolado, de braços cruzados, a ser confortado no meio do relvado por todos os seus companheiros. Que terá pensado Banks nesse momento, ele que soube parar Pelé de uma forma magistral?

A sucessão de David Seaman não foi fácil. Pela baliza inglesa passaram David James, Paul Robinson ou Robert Green sem nenhum sucesso e com grandes galináceos na memória. Até que um jovem louro começa a dar nas vistas no Manchester City e Capello decide dar-lhe a titularidade após o mundial sul-africano. Joe Hart agarrou o lugar e, passados mais de dez anos, a selecção inglesa tem um guarda-redes titular incontestável, poupando muito tempo e páginas de jornais durante os estágios que precedem os grandes torneios. Hart pode ser a base que faltava para uma grande campanha inglesa.


sábado, 30 de março de 2013

O Barcelona pós-Valdés



Victor Valdés anunciou recentemente que não iria renovar com o Barcelona. O seu contrato acaba daqui a um ano e pôs muita tinta a correr sobre quando sairia e, também, sobre quem o Barcelona iria encontrar para o substituir.

Valdés é um símbolo do actual Barcelona. É o guarda-redes que até aos 18 anos, sempre na formação do Barcelona, não queria ser guarda-redes, que viveu em constante sofrimento defendo as redes dos escalões inferiores do clube blaugrana. É o guarda-redes que, durante toda a sua formação, viveu longe da família e que conhece por dentro e como poucos La Masía, o centro de formação do clube catalão. Valdés é o guarda-redes que precisou de aconselhamento psicológico perto dos 18 anos para seguir a sua carreira, quando havia o risco eminente de abandonar o futebol. É o guarda-redes que chegou a titular do Barcelona num dos períodos mais difíceis para ser dono das redes daquele clube. 

Foram muitos os que passaram pela baliza do Barcelona no pós-Zubizarreta. Busquets, Baía, Ruud Hesp, Arnau, Reina, Dutruel, Bonano, Robert Enke ou Rustu foram sempre vistos como sucessores do guardião basco mas nenhum destes teve um sucesso prolongado. Apenas os primeiros três foram titulares indiscutíveis numa ou outra época mas sem grande brilhantismo. As contratações para a baliza sucediam-se a um ritmo vertiginoso - à semelhança do resto da equipa, diga-setambém - mas nenhum conseguia agarrar o lugar.

Até que Van Gaal apostou em Victor Valdés logo no início da temporada 2002/2003. Fez vários jogos a titular entre a Liga Espanhola e a Champions mas, num célebre jogo em Valladolid, cometeu dois pénaltis de forma idêntica e perdeu o lugar. Os meses que se seguiram foram os mais complicados que viveu como portero do Barcelona: faltou a treinos num acto de rebeldia e, como com Van Gaal não se brinca, foi relegado para a equipa B e teve que fazer uma conferência de imprensa para pedir desculpa pelos seus actos. Durante essa época fez uma longa travessia no deserto até final de Abril. O treinador já era Radomir Antic que apostou em Valdés como titular nos últimos oito jogos do campeonato. A partir daí, foi sempre titular indiscutível do Barcelona.

Rijkaard e Guardiola nunca duvidaram de Valdés, apesar algumas críticas da imprensa. De facto, não se poderia dizer que Valdés era um dos melhores do mundo. Era bom, estava a crescer mas havia melhores. E o facto do Barcelona não apostar numa contratação surpreendia muita gente já que nos outros sectores da equipa sempre foram tendo dos melhores jogadores do planeta. Mas depois de tantos anos à procura de uma solução para a baliza, os responsáveis foram dando confiança a Valdés, que se tornou num dos melhores do mundo por estes dias.

É mais do que evidente que é com Guardiola ao comando que Valdés consegue mostrar uma qualidade superior. Mas isso, a meu ver, tem também um outro factor: durante algumas épocas, Valdés foi titular tendo como suplente Jorquera, outro talento da formação catalã; mas é com a chegada de Pinto - um guarda-redes experiente, sem ser brilhante, mas com muitos anos de balizas na Liga Espanhola -  que Valdés consegue ganhar uma outra confiança debaixo dos postes, não cometendo tantos erros como era habitual. 

Os que não gostam de Valdés argumentam que ele tem pouco trabalho enquanto guarda-redes do Barcelona. Pode ser que sim, mas isso é mais difícil de gerir porque implica mais concentração. Valdés não é um guarda-redes vistoso entre os postes, é apenas eficaz. Mas onde mais eu gosto dele é nas saídas aos adversários e no bom jogo de pés - apesar de um ou outro erro.

O Barcelona, noticia a imprensa, está a tentar demover o seu guarda-redes da decisão que tomou. Mas, mais tarde ou mais cedo, Valdés terá que sair da titularidade e o Barcelona irá ter que procurar um substituto. E não se perspectiva ser uma tarefa fácil. Já se noticiou o interesse em Rui Patrício mas a fragilidade no jogo de pés do guarda-redes do Sporting não encaixa no perfil pretendido.

E qual é o perfil? Na minha opinião, e tendo em conta a pressão que implicará ser o substituto de Valdés, o Barcelona tem que contratar um guarda redes já feito, que já tenha vivido a pressão de ser guarda-redes de um clube grande. Hipóteses não há muitas: De Gea ou Courtouis ainda são muito jovens mas já têm alguma rodagem interessante; Neuer deverá ser a aposta de Guardiola no seu Bayern; Buffon já não quererá viver esta aventura; Diego Lopéz está no Real Madrid.

Sobram, assim em termos de nomes evidentes, Stekelenburg, Lloris ou Joe Hart. Veremos se os dirigentes do Barcelona apostam num destes nomes ou então descobrem em La Masía um novo talento ou mesmo se apostam num jovem guarda-redes de outra nacionalidade.


segunda-feira, 25 de março de 2013

Vintage #1: Frederico Barrigana



Frederico Barrigana tinha que ser a primeira opção desta secção porque, enquanto vibrava com as defesas de Vítor Baía, lia e ouvia as histórias do mítico Barrigana.

Antes de tudo, não era um nome normal. Barrigana soa a homem gordo para um miúdo de cinco anos, não? Mas esqueço logo isso quando descubro o apelido: mãos de ferro. Para um guarda-redes há poucos cognomes mais fortes do que este. Segundo me contaram pessoas que o viram jogar, Barrigana era felino na arte de defender, exuberante, um monstro das balizas.

Foi titular do Futebol Clube do Porto desde muito cedo e durante mais de uma década, apesar de não ser formado lá - chegou a jogar no Sporting, sem sucesso, no início da carreira. Mesmo assim, não conseguiu nenhum campeonato, ficando ligando ao segundo maior jejum de títulos nacionais dos portistas, mais concretamente dezasseis anos. E para piorar ainda a história, na temporada seguinte à saída de Barrigana para o Salgueiros - na II Divisão - o FCPorto quebrou o jejum e foi campeão nacional e com a melhor defesa do campeonato. A sua saída foi imposta pelo carismático Yustrich, o técnico brasileiro que quebrou o jejum mas que fica ligado a muitas histórias surreais para um treinador. 

Barrigana é um dos símbolos do FCPorto mas também das balizas nacionais, seguramente no top 10 português de todos os rankings.  

 
Desenhado por Pedro Barbosa | Gerido por Pedro Fragoso - Heróis e Galináceos